Vida inteligente fora da Terra: praticamente uma certeza.
As condições para o surgimento da vida são difíceis de encontrarmos no Universo. Vida inteligente, muito mais, equivale a ganhar sozinho em uma loteria cósmica com uma aposta simples. Mas o Universo é tão impensavelmente grande que mesmo descartando a maioria de planetas e luas o número de astros com potencial para a vida inteligente é gigantesco.
CIÊNCIAS


Olá amigos.
Nos últimos três meses, em especial, tenho conversado ainda mais com amigos que, como eu, se interessam e leem sobre astrofísica, astrobiologia, astronomia, cosmologia, ou a própria Física em si. Amigos na França, Itália e no Brasil.
A questão que irremediavelmente emerge à mesa é a possibilidade da existência de vida inteligente no Universo. Isso porque as notícias sugerindo as chances de vida fora da Terra têm sido frequentes, principalmente através de projetos de pesquisa utilizando-se do fabuloso James Webb Space Telescope e sua notável capacidade de análises espectroscópicas, dentre outros.
Se gostar do tema, permita-me, por favor: vença a resistência de ler textos grandes. Coloquei no papel, ou na tela, um extenso raciocínio englobando as várias nuanças relativas à defesa de parte importante da comunidade científica sobre vida extraterrestre inteligente.
Desde o início de sua trajetória como espécie, essa dúvida intriga o homem. Olhava para o céu, à noite, sentado com seu clã ao lado de uma fogueira, e se perguntava: estamos sós? Curiosamente, apesar da evolução, o homem continua buscando a resposta.
O notável astrofísico americano, Neil Tyson, gosta de evocar o princípio copernicano ao discorrer sobre o tema. “Não somos privilegiados, é uma presunção sem-limites pensar que não há outras civilizações lá fora, diante de chances tão elevadas de existirem”, afirma.
Menciono Tyson, aqui, por ter visão semelhante nesse aspecto da possibilidade de haver outras civilizações no universo, mais e menos avançadas que a humanidade.
Já sei, tenho de evocar aqui o brilhante físico italiano Enrico Fermi e seu paradoxo. Ele afirmava sobre o pensamento dos astrofísicos: “Se é assim, onde está então todo mundo?”
Vamos voltar à pergunta do senhor Fermi, falecido no início dos anos 50, mais no fim do texto.
Evidências matemáticas
As informações a seguir deverão levá-lo a perguntar a si próprio se Tyson e a maioria da comunidade científica não estão certos ao defenderem a existência de outras sociedades com tecnologia avançada no Universo. Baseiam-se, essencialmente, em uma ciência, a matemática, na verdade dois ramos desta, a estatística e a lei das probabilidades.
Comumente, esse grupo de cientistas cita também um dado bastante robusto para fortalecer sua tese. A origem do Universo remonta a 13,7 bilhões de anos, com o Big Bang. As primeiras galáxias, estamos vendo agora com as descobertas do James Webb, começaram a surgir bem antes do que pensávamos, 200 milhões somente depois do Big Bang.
E o nosso sistema solar tem 4,6 bilhões de anos. Isso quer dizer que bem antes de a Terra se formar, em outras áreas do Universo planetas e luas, por exemplo, já existiam há quase 9 bilhões de anos.
Em outras palavras, a vida teve muito mais tempo para se desenvolver em alguns desses planetas e, quem sabe, nas suas luas, do que na Terra, reforçando a ideia da possibilidade da existência de sociedades alienígenas inteligentes.
Você sabe qual é a extensão do Universo observável? Há um certo consenso de ser 93 bilhões de anos-luz. Esse conceito não expressa tempo, mas distância. Ano-luz é a quantidade de quilômetros que a luz viaja em um ano de deslocamento, a uma velocidade de 300 mil quilômetros por segundo. O resultado é algo próximo de 9,5 trilhões de quilômetros.
Num piscar de olhos
Para você ter uma referência melhor da velocidade da luz, cada vez que você pisca, digamos que a operação demande um segundo, a luz nesse exíguo espaço de tempo dá 7 voltas e meia ao redor da Terra!
Vamos às contas? A circunferência do nosso planeta é de 40 mil quilômetros. Sete voltas ao redor da Terra perfazem 280 mil quilômetros (40.000 x 7), concorda? Como a luz se move a 300 mil quilômetros por segundo, então em um segundo, o tempo de fechar e abrir de olhos, a luz completa 7 voltas ao redor da Terra, ou 280 mil quilômetros, e ainda sobram 20 mil, ou meia circunferência, de troco.
É rápido, não acham? Agora imagine a luz viajando não um segundo, como no nosso exemplo, mas um ano nessa velocidade espantosa para os nossos parâmetros!
Vamos em frente. Lembra da extensão do Universo observável? 93 bilhões de anos-luz. De novo, se num piscar de olhos a luz dá sete voltas e meia ao redor da Terra, em 93 bilhões de anos, o limite do que somos capazes de enxergar, onde não chegará?
Concordo com você, nossas referências são restritas para entender. E isso para o Universo observável. Não sabemos o que existe além do Cabo Bojador, como diriam os portugueses nos tempos das descobertas marítimas, no século XIV.
O Cabo Bojador fica no litoral oeste da África, na altura do Saara Ocidental, logo abaixo da fronteira com o Marrocos. No passado, algumas embarcações desapareceram ao tentar ir além dele no contorno do continente, criando o mito da sua intransponibilidade. Até que em 1434 o navegador português Gil Eanes o enfrentou, superou e mostrou não haver monstros que devoram pessoas, dando grande impulso a novos descobrimentos, como escreveu Fernando Pessoa.
Tamanho impensável
Voltando ao macro do Universo, depois dessa rápida viagem pela sua dimensão relativística, podemos começar a responder à pergunta sobre o porquê de nunca termos sido contatados por uma civilização mais avançada, como desejava Fermi.
Estamos diante de um espaço físico alucinantemente grande!
Se o telescópio espacial James Webb descobrir, por exemplo, sinais inequívocos de atividade biológica na atmosfera de um planeta a 1 milhão de anos-luz da Terra, o que podemos fazer? Com a atual tecnologia, literalmente nada! Se emitíssemos um sinal de rádio com potência suficiente para atingir esse planeta, seria necessário esperar um milhão de anos até que o sinal chegasse lá.
E na hipótese de haver vida inteligente, eles entenderem nossa mensagem de rádio e desenvolver uma forma de nos responder, precisaríamos esperar outro milhão de anos até a chegada à Terra. Albert Einstein disse que nada é mais rápido do que a velocidade da luz. É um dos princípios da teoria da relatividade, até agora nunca refutada.
Essa civilização poderia ter tecnologia para criar a chamada dobra espacial, por exemplo, ou seja, reduzir o espaço-tempo, tornando a comunicação bem mais imediata, já que existe há bem mais tempo que a sociedade dos homens? A Física mostra que a dobra espacial é possível, basta ter tecnologia, muita tecnologia.
Mas aí vale a pergunta: o que um pontinho muito difícil de ser observado, por não ter luz própria, no braço espiral de Orion na Via Láctea, como tantos outros planetas, tem de diferente, a ponto de fazer essa civilização avançada se interessar em explorar? Sim, estou falando da Terra e sua insignificância no cenário cósmico.
Falta tecnologia
Debrucemo-nos em um caso prático. A sonda Voyager 1 foi lançada em 1977. Neste instante, se desloca no espaço a 61 mil km/h e encontra-se a algo como 25 bilhões de quilômetros da Terra, ou 168 Unidades Astronômicas-UA, distância média do Sol à Terra, 150 milhões de quilômetros. Cruzou a órbita de Plutão, a 6 bilhões de quilômetros do Sol, há décadas.
Para simplificar o entendimento, usemos um cálculo aproximado, válido no nosso caso: a luz percorre um bilhão de quilômetros em uma hora. Então, quando o Nasa Deep Space Network (DSN) envia uma mensagem via onda de rádio para reposicionar a trajetória da Voyager 1, por exemplo, é preciso esperar 25 horas até que ela chegue à antena da sonda, já que se encontra a 25 bilhões de quilômetros.
E outras 25 horas para a Nasa receber a resposta do sinal de rádio da Voyager 1 confirmando ou não a operação desejada. Considero isso tudo uma das maiores proezas da humanidade, não acham?
Amigos, faz 48 anos que a Voyager 1 decolou de Cabo Canaveral, na Flórida.
Sabe quanto tempo a Voyager 1 demandaria para se aproximar do sistema planetário de Alpha Centauri, a estrela mais próxima da Terra, distante 4,2 anos-luz, algo mínimo na escala cósmica?
Acredite: mais 66 mil anos!
Vai vendo como essa questão da comunicação com vida extraterrestre inteligente é complexa em função, como descrito, da dimensão do Universo.
Resgato o exemplo da hipotética civilização situada em um planeta a um milhão de anos-luz. Em quilômetros, devemos multiplicar 9,5 trilhões, o número de quilômetros de um ano-luz, por 1 milhão de anos. O resultado é 9,5 quintilhões de quilômetros. A distância média da Terra à Lua é de 380 mil quilômetros! Imagine agora o citado, 9,5 quintilhões de quilômetros.
Responde aí
Já sei, você quer saber em que me baseio para a todo momento deixar clara a possibilidade da existência de vida inteligente em outros rincões do Universo. Chegaremos lá agora. Lembra que mencionei a matemática, a estatística, a lei das probabilidades?
Vida primitiva, abundante
Antes, permita-me responder uma pergunta que você talvez já se tenha feito: e vida não inteligente, pode existir no Universo?
Amigos, estamos não muito distantes de confirmá-la aqui no quintal de casa. Ao menos em duas luas do nosso sistema solar as chances de encontrarmos formas de vida simples são grandes. São elas Europa, de Júpiter, e Encélado, de Saturno.
A Nasa lançou a Missão Clipper para realizar vários flybys, voos rasantes, na lua Europa. O oceano de água salgada sob o manto de gelo da superfície deve esconder formas de vida. Há um núcleo quente no interior de Europa e os dados obtidos até agora confirmam a existência de todos os elementos necessários para o surgimento e manutenção de formas de vida primitivas. A Missão Clipper está prevista nos enviar os primeiros dados em 2030.
O mesmo vale para Encélado. Formas de vida não inteligente devem existir aos milhares no Universo. Concordo, tema para outro texto.
Voltemos à vida inteligente. Há na Via Láctea, segundo a maioria dos astrônomos, entre 100 e 400 bilhões de estrelas. Fixemo-nos em um valor médio, 200 bilhões, bem plausível. Mas não há vida nas estrelas, ao menos até onde entendemos. Procuremos por planetas.
Não temos técnicas muito precisas, ou melhor, abrangentes para detectá-los. É verdade, pode acreditar. Não é o caso de discuti-las aqui. A pesquisa do trânsito do planeta na frente da sua estrela, por exemplo, a técnica mais usada, necessita que o planeta passe em frente ou atrás da estrela para ser detectado, provar sua existência.
Mas ele pode estar em um ponto distante da órbita, esta ser grande ou a inclinação do plano orbital não permitir a detecção do trânsito. Ou seja, o planeta existe, mas não está sendo detectado.
O que já está claro para os astrônomos é que a maioria das estrelas tem planetas. Umas mais outras menos. Quando penso que até 1994 podíamos apenas supor a existência de planetas, por falta de tecnologia para detectá-los, confesso me impressionar. Nós só os confirmamos há 31 anos!
400 bilhões de planetas, só na Via Láctea
Se estimarmos, realisticamente, a presença média de dois planetas por estrela que os tenham – provavelmente esse número é maior -, chegamos à conclusão que deve existir só na nossa galáxia cerca de 400 bilhões de planetas (200 bilhões de estrelas x 2).
A Via Láctea é uma galáxia de dimensão média, do tipo espiral barrada, com 100 mil anos-luz de diâmetro. Estudos recentes sugerem ser bem maior. E há no Universo, de acordo com os astrônomos, depois das últimas análises de imagens do campo profundo do cosmo, disponibilizadas pelo telescópio Hubble e mais recentemente o James Webb, também entre 100 e 400 bilhões de galáxias, no mínimo, para o universo observável.
Se lançarmos nessa conta o que não conseguimos detectar, ver, em razão da elevada velocidade de expansão do universo, provocada por esse verdadeiro mistério chamado energia escura, esses números ganham dimensões impensáveis. A astronomia já trabalha com a hipótese de trilhões de galáxias no universo. Mas fechemos nosso campo de estudos no observável.
Adotemos um valor médio, como fizemos com relação ao número de estrelas na Via Láctea. Assim, o nosso Universo tem 200 bilhões de galáxias, algo completamente dentro das previsões astronômicas até obtermos mais dados sobre o inobservável.
40 sextilhões de planetas no Universo
Se multiplicarmos o número de planetas estimado para a Via Láctea pelo número de galáxias no Universo, a conta é 200 bilhões de planetas x 200 bilhões de galáxias. O resultado é 40 sextilhões de planetas, ou 40 seguido de 21 zeros!
E você viu aí que não estamos chutando. Adotamos elementos lógicos, respaldados na ciência, para chegar a esse valor.
Deu para começar a refletir que a amostragem do nosso exercício de encontrar vida inteligente fora da Terra é arrasadoramente grande, aumentando sobremaneira a chance de existir?
Mas é verdade, também, que para ocorrer o fenômeno da vida como a conhecemos é preciso uma série de condições muito especiais, equivale ao planeta ganhar na loteria cósmica, como fez a Terra. Vida inteligente? Bilhete super premiado, muito mais raro.
Tudo tem de dar muito certo
Vou citar algumas dessas condições favoráveis, tudo bem genericamente, entendido? Primeiro, a estrela estar preferencialmente na sequência principal, fase da sua longa vida em que já passou pelas inconstâncias dos momentos iniciais da fusão nuclear e do período em que o hidrogênio começa a acabar. Sim, estável como o nosso Sol.
Dois: o planeta deve estar a uma distância da sua estrela em que não faça muito calor ou frio, ao menos constantemente, a fim de que a água exista também em estado líquido. Sem isso, pelo que sabemos, não há como haver vida.
Três: esse planeta ser rochoso (provavelmente) e ter um núcleo metálico submetido a determinada pressão e temperatura, provocadas por sua massa, capaz de mantê-lo em estado líquido. Esse núcleo deve girar a uma velocidade que permita a geração de corrente elétrica e, consequentemente, um campo magnético, recurso essencial para proteger o planeta da radiação da estrela, dentre outras.
O núcleo da Terra é formado por ferro e nível em estado líquido a cerca de 3 mil quilômetros de profundidade. A velocidade de rotação da Terra na linha do Equador é de algo como 1.600 km/h.
Quatro: é preciso uma atmosfera que seja formada por determinada mistura de gases e numa proporção mais ou menos específica. A da Terra tem 78% de nitrogênio e 20% de oxigênio. Mais os gases restantes.
Quinto: a massa desse planeta não pode ser pequena a ponto de a gravidade gerada não ser capaz de reter a atmosfera na superfície. E não muito grande, pela possível dificuldade de vida inteligente em cenários de elevada gravidade, como nos planetas gigantes. Mas, de novo, sempre de acordo com as nossas referências de vida.
Sexto: as esferas, sozinhas, não são estáveis quando giram. Seu eixo de rotação inclina. Imagine um pião girando. O seu eixo de rotação descreve também um círculo. Esse movimento se chama precessão.
A oscilação do eixo de rotação causa uma variação importante no clima do planeta, não lhe permite ser regular, previsível, estável, com estações definidas, varia de um extremo ao outro.
Lua, a salvação da humanidade
O eixo de rotação da Terra oscila bem pouco. Obteve essa estabilidade depois de um planetoide, de nome Theia, do tamanho de Marte, se chocar contra ela na época da formação do sistema solar, há quatro bilhões e meio de anos. O impacto lançou para o espaço os detritos da colisão. A gravidade os atraiu dando origem à Lua. A teoria é muito aceita pelos astrônomos.
Tudo deu tão certo que a massa da Lua – uma das maiores do nosso sistema solar - foi a correta para estabilizar a precessão do eixo de rotação da Terra, mantê-lo em 23 graus. Ele passou a oscilar muito pouco, uniformizando, assim, o clima. Imagine que uma volta completa dessa pequena oscilação do eixo demora 26 mil anos. Felizmente!
Outra consequência da existência da Lua foi a redução da velocidade de rotação da Terra. O dia tinha, acredita-se, somente 6 horas. Para a vida inteligente evoluir, como a conhecemos, é preciso, na sua origem, algo distinto de um dia com 6 horas. Os processos biológicos seriam desencadeados, com a luz do Sol, e logo em seguida interrompidos com a chegada da noite, assim ciclicamente. Bem indesejável para o desenvolvimento de formas de vida mais complexas.
A Lua teve, portanto, relevância capital no surgimento da vida inteligente na Terra. Sem ela, a variação climática extrema provavelmente não permitiria o seu surgimento.
Bem, esses são alguns dos mandamentos obrigatórios que o planeta deve observar para sonhar em ter o desenvolvimento de vida e, em especial, inteligente. Há outros. Esses são os principais. De novo: estamos nos baseando na nossa própria evolução.
Outras formas de evolução
Não será nenhuma surpresa se descobrirmos processos distintos de um planeta evoluir até o ponto de a vida inteligente florescer. Eu lembro que a grande maioria dos sistemas solares que estamos descobrindo nada ou quase tem a ver com a estabilidade e previsibilidade do nosso. O Universo te surpreende a cada instante
Recordo que até há cerca de somente 50 anos o mundo da ciência afirmava que se o Sol deixasse de emitir luz e calor para a Terra, ou energia, a vida se extinguiria.
Pois a descoberta de formas de vida nas fontes termais oceânicas, onde a luz e o calor do Sol não chegam, revolucionou o que sabíamos. Essa vida, primitiva, não faz fotossíntese, mas quimiossíntese, sintetiza compostos orgânicos a partir de inorgânicos e sem a presença da luz solar. A energia vem do calor emanado pelo núcleo aquecido da Terra.
Quando o sol deixar de fundir hidrogênio daqui a 4 bilhões de anos, é provável que essas formas de vida das fontes termais oceânicas sigam ainda existindo por muito tempo, pois o calor do núcleo da Terra, sua fonte energética, vai demorar bem mais para se extinguir. Já a vida na superfície deixará de existir.
Relanço a pergunta: mas se é assim tão difícil a vida começar a florescer nos planetas, é preciso que tanta coisa complexa e rara aconteça, de onde vem a crença da comunidade científica de que muito provavelmente há várias civilizações no Universo?
Deixa eu me complicar mais um pouco?
Atente: as chances de um apostador ganhar sozinho na mega-sena com um jogo simples são de uma em 50 milhões. Reserve o dado, como diria uma boa receita culinária.
Exclusão em massa
Lembra daquela palavrinha mágica mencionada lá em cima? Essa mesma, estatística. Mergulhemos nos números.
Estimamos a existência de 40 sextilhões de planetas no Universo, certo? Suponha que somente 1% deles atenda a um dos pré-requisitos necessários para poder haver vida inteligente. Então 1% de 40 sextilhões equivale a 400 quintilhões. Agora, de novo apenas 1% dos planetas restantes obedece a um segundo pré-requisito. Com isso sobram 4 quintilhões.
Seguindo: mais uma vez, somente 1% é capaz de corresponder ao pré-requisito seguinte, o que nos deixa com 40 quatrilhões de planetas.
As exigências severas para a existência de vida inteligente fazem com que apenas 1% desses 40 quatrilhões de planetas restantes possam abrigá-la, deixando-nos com “somente” 400 trilhões.
Vale o mesmo raciocínio: mais 1% destes planetas tem potencial para a vida inteligente e chegamos a um número de 4 trilhões. Vamos em frente: de novo 1% atende a mais uma exigência e atingimos 40 bilhões. É o que nos restou.
Nosso estudo probabilístico começou com os estimados 40 sextilhões de planetas existentes no Universo e atingiu “apenas” 40 bilhões com real potencial para o desenvolvimento da vida inteligente.
Desprezamos a “bagatela” de trilhões de planetas. Fomos bastante exigentes para nos limitarmos aos 40 bilhões de planetas que podem ter seguido evolução semelhante à da Terra.
Esse é o ponto! 40 bilhões! É uma tremenda de uma amostragem!
Bem poucos passam pelo funil
Você poderia perguntar se não estou sendo muito rigoroso, seletivo. Afinal, restou 40 bilhões de planetas dos 40 sextilhões iniciais. Nosso estudo se interessou por somente 1% do total que restava cada vez que selecionávamos 1% do conjunto em nada menos de seis vezes. Saímos de um cenário de 40 x 10²¹ planetas para atingirmos 4 x 10⁹ . Suprimimos incrivelmente 12 zeros!
Na realidade não estamos sendo precavidos demais. Há um número grande de estrelas binárias, ou pertencentes a sistemas múltiplos, gravitando ao redor de um centro de massa, baricentro.
A vida até pode existir em planetas de estrelas binárias, apesar das grandes dificuldades, mas vida inteligente a probabilidade é bem baixa, diante das alternâncias das condições extremas nesses planetas, ora muito quente ora muito frio, comprometendo a existência de água na forma líquida, dentre outras “agressões” àquilo que necessitamos para manutenção de formas de vida como conhecemos.
Você lá leu isso antes, várias vezes: sempre de acordo com o que conhecemos da vida e da evolução planetária da Terra, a feliz combinação de átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre, sob condições favoráveis.
O mesmo raciocínio vale para planetas que orbitam estrelas anãs vermelhas, as mais comuns no Universo. Seus planetas têm restrições importantes para gerar vida inteligente. As anãs vermelhas emitem menos calor. A temperatura média em sua superfície é de 3 mil graus Celsius, enquanto na fotosfera do nosso sol é de 5.500 graus.
Isso faz com que os planetas tenham de estar mais próximos das anãs vermelhas para garantirem temperaturas em que a água se apresente em estado líquido.
Mas aí entra em cena uma característica terrível para o desenvolvimento até mesmo de formas de vida mais simples, imagine então de vida inteligente: as anãs vermelhas se caracterizam pela emissão esporádica de raios de alta energia, ultravioleta e raios-X, decorrente de super erupções eletromagnéticas, potencialmente capazes de remover a atmosfera de um planeta e modificar moléculas complexas atreladas à existência de vida como a conhecemos.
Viu só como não fui excludente demais ao “selecionar” 40 bilhões de planetas em um universo de 40 sextilhões?
Você concorda comigo que mesmo assim os 40 bilhões de planetas altamente premiados para poderem ter vida inteligente estão longe de representar uma amostragem reduzida? Lembra da chance de um apostador ganhar sozinho na mega-sena com uma aposta simples, uma em 50 milhões?
Bingo, bilhete premiado
Pois as chances de encontrarmos um planeta que atenda a todas complexas e raras exigências para desenvolver vida inteligente são, depois da nossa severa seleção, infinitamente maiores do que as do nosso apostador ganhar sozinho na mega-sena.
O nosso volante da mega-sena tem um número elevadíssimo de apostas, bem mais das 15 dezenas máximas permitidas, que dão ao apostador uma chance em 10 mil. Ou seja, nossas chances de um evento bem-sucedido, de encontrarmos vida inteligente, são grandes pela razão exposta, a amostragem super selecionada de planetas candidatos ser enorme.
Pois acrescente a esse dado estatístico irrefutável o outro argumento sólido do tempo de existência de muitas galáxias bem mais antigas que a Via Láctea, sempre evocado pela comunidade científica.
Várias delas, com seus bilhões de planetas e luas, tiveram, como mencionado, 9 bilhões a mais de tempo do que a Terra para ver a vida surgir, evoluir, despertar para a inteligência e até quem sabe se extinguir para, então, se manifestar de novo, conferindo-lhe um caráter cíclico.
Contato ainda vai demorar
O homem terá um dia sua pergunta sobre estar só ou não no Universo respondida?
Pessoalmente torço muito por isso. Mas usando novamente a matemática para responder, a mesma estatística, as chances são infinitamente pequenas.
E os motivos são os aqui apresentados: dependemos de esses seres mais tecnológicos nos procurarem porque nossa tecnologia está ainda muito distante de ser capaz de reduzir a dimensão do espaço-tempo, criar a dobra espacial ou outra forma de reduzir as distâncias relativísticas para estabelecermos contato.
E a Terra não tem nada de especial que chame a atenção de alguém situado bem longe, até onde sabemos.
Velocidade da luz, fator limitante
Sem poder encurtar o espaço-tempo ficamos severamente limitados pela velocidade da luz para tudo. Enquanto 300 mil quilômetros por segundo representam muito quando fazemos aquele exercício de piscar os olhos e a luz contornar a Terra sete vezes e meia em um segundo, eles representam passos de tartaruga na escala cósmica.
Em resumo, colocando todos os muitos elementos aqui apresentados numa balança, faz sentido acreditarmos que esse contato com civilizações mais avançadas tecnologicamente ainda deverá demorar muito tempo.
Sem nenhuma intercorrência anormal, considerando-se apenas o natural avanço dos recursos técnicos da humanidade, me arrisco a dizer que, se não se extinguir antes, teremos ainda bons séculos pela frente, apesar de usar até a camiseta uniformizada do time que torce para esse contato acontecer logo.
O mais importante é que a estatística e a lei das probabilidades não deixam dúvida alguma para a maioria dos cientistas e para mim, jornalista, sobre sociedades mais avançadas tecnologicamente existirem ou não. A pergunta não é se estão no Universo para eventualmente trocarmos figurinhas, mas somente quando isso acontecerá.
Abraços, amigos.
