O Natal está dentro de cada um de nós

Dá para perceber que o Natal não é uma data, senão um estado de espírito, uma pausa para meditação e, como resultado, deflagra uma lenta e segura renovação pessoal, um momento de esperança? Natal é, portanto, quando a humanidade bem entender.

CRÔNICAS

12/17/20255 min read

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Olá amigos.

Eis aqui a minha reflexão sobre o Natal.

A maioria dos acadêmicos concorda que há cerca de dois mil anos viveu onde hoje é o Estado de Israel um jovem judeu de nome Yeshua, um ativista carismático, líder de um movimento reformador e pregador de um mundo sem hierarquias sociais, mais justo, com muito amor, compaixão e perdão. Quem observasse sua mensagem, dizia, chegaria ao “Reino de Deus”.

Vale lembrar que a região de nossa história estava sob domínio do impiedoso império romano e Yeshua é o nome de Jesus em aramaico, língua mais falada no Oriente Médio naqueles tempos.

Os estudiosos baseiam a crença da sua existência em citações encontradas em documentos romanos e judeus da época e, com reservas, na descrição detalhada da sua trajetória nos quatro evangelhos canônicos da Bíblia, redigidos por Mateus, Marcos, Lucas e João.

Com reservas porque nenhum conheceu, até onde se sabe, Jesus, eram apenas propagadores da sua doutrina, uma luz sobre como conviver em um regime ostensivo, em como ser feliz e fazer o bem, indistintamente, a todos. Sempre.

Os textos dos evangelistas foram redigidos depois da morte do seu líder, entre 40 e 140 anos mais tarde, algo assim – não há como a história precisar as datas. Por esse motivo os acadêmicos relatam ser difícil distinguir o Jesus da história do Jesus da religião e ser necessário cuidado para não transformar pressupostos religiosos em verdades históricas.

Seja como for, conforme mencionado, a existência de um cidadão judeu de espírito libertador, grande capacidade de doação, desprendido, corajoso, por saber o que os romanos faziam com os não colaboradores – sentiu na pele a crucificação -, está bem documentada.

O responsável por aquela mensagem tão forte que contaminaria a humanidade, trazendo desde então bem-estar, harmonia, equilíbrio, esperança, consolo, aos seus hoje 2,2 bilhões de seguidores, um quarto da população do planeta, não é um mito. Jesus, Jesus Cristo, é real.

O que provavelmente não é verdadeira é a data de seu nascimento, por não haver registro algum nos papéis sobreviventes de seu tempo e dos séculos seguintes.

Os historiadores acreditam que ao redor do ano 350 a igreja católica instituiu o 25 de dezembro por nessa data haver uma convergência de festas pagãs. Parte importante dos pesquisadores atribui a escolha do período para o Natal por existir já uma manifestação pagã cultivada pelos romanos chamada Saturnália, uma honra ao deus Saturno.

Saturno era na sua cultura o deus da agricultura e a chegada do solstício de inverno no hemisfério Norte, dia 21 de dezembro, celebrava o fim do ano agrícola. O comércio fechava, a festa tinha música, havia troca de presentes, regras sociais eram suspensas, tudo definia uma época de alegria.

O objetivo de inserir o Natal bem nesse contexto, nessa data, era conquistar fiéis para o cristianismo. Nos três primeiros séculos da religião surgida da obra de Jesus, o seu nascimento, o Natal, não era celebrado.

Descobertas reveladoras

E hoje estamos aqui navegando exatamente sobre o 25 de dezembro. Vale a pena nos permitirmos certas reflexões.

Não importa se acreditamos nas passagens de Jesus descritas na Bíblia, como seu poder de cura, os milagres realizados, a ressurreição, ou mesmo limitamo-nos a entendê-lo como um grande ser humano que tinha como princípio de vida transmitir um ensinamento único ao povo, passar sua mensagem espiritual e messiânica.

Seja como for, até os menos sensíveis, os não crentes se rendem, nessa época em que os cristãos comemoram o nascimento de Jesus, à atmosfera desses dias. Algo nos estimula a olhar para dentro de si e, essencialmente, não entender os demais como adversários, ou pior, em alguns casos, inimigos. Paira no ar uma indisfarçável onda de fraternidade.

Estabelece-se uma comunhão de pensamentos, gerando uma contaminação emotiva. Os abraços são mais longos, sentidos, repassamos mais que um contato físico. Não raro, pronunciamos baixinho no ouvido do outro, no instante do abraço, palavras que vão do pedido de perdão por algo feito a uma simples e sincera declaração de amor fraterno.

Uma inexplicável sensação de desprendimento toma conta da maioria. De repente passamos a observar as mesmas coisas, mas com uma visão distinta, menos crítica, julgadora, mais isenta. Uma necessidade compulsiva de querer ser útil ao próximo pulsa dentro de cada um, mostrar que também temos uma pequena capacidade de doação.

Ao mesmo tempo, questionamos por qual razão não somos assim fora do período do Natal, garantiria melhor qualidade de vida para nós, aos que nos cercam e aos que, eventualmente, cruzam nossos caminhos.

Não raro, nessa época nos propomos a ser mais vigilantes, procuramos praticar mais a filosofia daquele jovem judeu. Sim, é um exercício. Não temos a competência de estarmos sempre disponíveis, dispormos de generosidade sem limites, como a análise da trajetória de Jesus sugere que ele possuía e, também por esse motivo, os cristãos o definem como o ser humano mais elevado que passou pela Terra. “O Filho de Deus”.

Dá para perceber que o Natal não é uma data, senão um estado de espírito, uma pausa para meditação e, como resultado, deflagra uma lenta e segura renovação pessoal, um momento de esperança? Natal é, portanto, quando a humanidade bem entender.

O mérito tem de ser seu

Há outro aspecto importante na tomada de consciência da nossa realidade emanada nesses dias, proporcionada pelo clima de elevação do Natal, independente de ser ou não a data histórica do nascimento de Jesus: é comum os cristãos pedirem a sua ajuda para vencer desafios.

Para muitos, um delicado sininho toca bem próximo do ouvido, sugerindo a seguinte reflexão: será que o que estou solicitando não é exatamente aquilo que me está sendo proposto para ser superado, para a minha própria evolução? O que pedimos é, no fundo, o que nos é pedido. Bingo!

O Cristo consolador dos devotos está lá para oferecer clareza de raciocínio, oferecer uma luz às direções a serem seguidas para atenuar suas dificuldades ou mesmo solucioná-las, mas as escolhas, os andamentos são, fundamentalmente, de responsabilidade dos cristãos.

Faz parte dos ensinamentos do Cristo a compreensão de que o mérito pelo avanço, pela conquista, tem de ser de cada um dos seus fiéis, não dele. Algo que levarão para sempre consigo e orientará seus próximos passos. Escalaram um degrau na escala evolutiva.

Puxa, como o Natal das convenções também é legal, não? Propicia tanta coisa maravilhosa que os adereços menos relevantes que o envolvem, como a comercialização da data, acabam por se tornar pequenos diante da grandiosidade dos efeitos gerados nos homens.

O Natal não celebra apenas o nascimento simbólico do Cristo, pode representar, também, o despertar de uma nova postura de cada um para a vida, estruturada no sublime conjunto de valores deixado por Jesus, como a história bem descreve. Lembra? Ele é real, existiu e sua herança poderosa é eterna.